As dietas caseiras para gatos têm se tornado cada vez mais comuns. Um estudo realizado nos Estados Unidos e Austrália com informações de 449 gatos observou que cerca de 13% dos gatos consumiam alimento caseiro como parte da dieta, cerca de 6% recebiam alimento caseiro como pelo menos 25% da dieta total diária e nenhum gato recebia apenas alimento caseiro (LAFLAMME et al., 2008). Outro estudo mais recente que obteve informações dietéticas de mais de 1.500 gatos de 55 países observou que cerca de 62% dos gatos consumiam alimento caseiro como parte da dieta, e cerca de 6% consumiam alimento caseiro como único alimento (DODD; CAVE; VERBRUGGHE, 2018). Esses dados mostram a crescente procura pelas dietas caseiras, seja como parte da alimentação ou como dieta principal.
Com este aumento no número de tutores que fornecem alimentos caseiros para seus gatos, ficam mais evidentes as dificuldades no fornecimento deste tipo de alimento. Entre elas, podemos citar dietas desbalanceadas, rejeição da dieta pelo gato e dietas com alto risco de contaminação microbiológica (bactérias e parasitas, por exemplo) (REMILLARD, 2008; PARR; REMILLARD, 2014; PEDRINELLI et al., 2019).
Muitos tutores buscam dietas mais próximas àquelas que seriam consideradas como biologicamente apropriadas ou da natureza felina, que incluem alimentos crus. São diversas as alegações de benefícios dos alimentos crus para gatos, como melhor aceitação, melhor aproveitamento e digestão e mais saudáveis. Porém, nenhum desses benefícios foi comprovado cientificamente. Além disso, diversos trabalhos foram publicados relacionando o consumo de alimento cru com problemas de saúde em gatos (STIVER et al., 2003; FREEMAN et al., 2013). Por termos mais evidências sobre os riscos dos alimentos crus do que sobre seus benefícios, recomenda-se cautela na recomendação deste tipo de alimento para gatos.
Outra dificuldade encontrada na prescrição de alimento caseiro para gatos é se ela é balanceada. Gatos possuem necessidades nutricionais diferentes de humanos e de cães, por isso os alimentos caseiros destinados a eles devem ser especificamente formulados. Dietas mal formuladas correm sério risco de serem inadequadas, podendo provocar deficiência ou excesso de nutrientes (POLIZOPOULOU et al., 2005; PEDRINELLI et al., 2019). Assim, recomenda-se procurar um profissional capacitado que trabalhe com nutrição de pequenos animais para a elaboração de dietas caseiras.
Considerando que a dieta tenha sido bem formulada, outro problema ainda é comum para tutores de gatos que querem fornecer alimento caseiro: a aceitação da dieta. Os gatos costumam aceitar apenas dietas com as quais tiveram contato quando filhotes, o que inclui alimentos úmidos como sachês e patês (ARMSTRONG et al., 2010). Animais que não foram familiarizados com alimentos caseiros dificilmente aceitarão este tipo de dieta quando adultos, por mais que o tutor insista e varie os ingredientes.
Em resumo, fornecer alimentos caseiros para gatos pode ser um desafio tanto para o profissional quanto para o tutor. Por isso, recomenda-se sempre procurar um profissional especializado em nutrição de gatos para poder auxiliar na introdução deste alimento e também garantir que o alimento seja seguro no longo prazo, sem deficiências ou excesso nutricionais e sem contaminação microbiológica.
Esse artigo foi escrito pela M. V. MSc. Vivian Pedrinelli (@vi_pedrinelli), especializada em formulação de dietas caseiras em cães e gatos!
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Referências
ARMSTRONG, P. J. et al. Introduction to feeding normal cats. In: HAND, M. S. et al. (Ed.). Small Animal Clinical Nutrition. 5. ed. Topeka, EUA: Mark Morris Institute, 2010. p. 361–372.
DODD, S. A. S.; CAVE, N. J.; VERBRUGGHE, A. Changes in the feeding practices of domestic dogs and cats over the last decade. In: ESVCN Proceedings 2018, Munique, Alemanha. Anais… Munique, Alemanha: ESVCN, 2018.
FREEMAN, L. M. et al. Current knowledge about the risks and benefits of raw meat–based diets for dogs and cats. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 243, n. 11, p. 1549–1558, 2013. Disponível em: <http://avmajournals.avma.org/doi/abs/10.2460/javma.243.11.1549>.
LAFLAMME, D. P. et al. Pet feeding practices of dog and cat owners in the United States and Australia. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 232, n. 5, p. 687–694, 2008.
PARR, J. M.; REMILLARD, R. L. Handling alternative dietary requests from pet owners. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 44, p. 667–688, 2014.
PEDRINELLI, V. et al. Concentrations of macronutrients, minerals and heavy metals in home-prepared diets for adult dogs and cats. Scientific Reports, v. 9, n. 1, p. 1–12, 2019.
POLIZOPOULOU, Z. S. et al. Hypervitaminosis A in the cat: A case report and review of the literature. Journal of Feline Medicine and Surgery, v. 7, p. 363–368, 2005.
REMILLARD, R. L. Homemade diets: Attributes, pitfalls, and a call for action. Topics in Companion Animal Medicine, v. 23, n. 3, p. 137–142, 2008.
STIVER, S. L. et al. Septicemic salmonellosis in two cats fed a raw-meat diet. Journal of the American Animal Hospital Association, v. 39, p. 538–542, 2003. Disponível em: <papers2://publication/uuid/D1D0EA5E-AD2F-4DDD-861B-E62CBC93ED7E>.